Confiança é algo que se pede?

Existem momentos na vida em que confiar em alguém parece uma missão quase impossível. A frase “você precisa confiar em mim” pode soar muito estranha quando ouvimos. Afinal, será que confiança é algo que se pede?

Já não somos mais crianças quando, no decorrer da vida, pessoas entram e saem de nossas vidas. Que garantia temos de como elas irão agir quando estão longe de nossos olhos?
 
Talvez, antes de olhar para a ausência de alguém, pensemos naquilo que já pudemos sentir em sua presença.



Podemos começar este diálogo sobre confiança a partir da primeira relação interpessoal que a maioria de nós viveu nos primeiros dias de vida, que é a relação de uma mãe com seu filho.

Nos primeiros meses de vida, o bebê ainda não tem consciência de que ele e sua mãe são indivíduos separados, crendo que ele e ela formam uma só pessoa. Com o passar dos dias ele vai percebendo que, além de ambos serem separados um do outro, sua mãe não está 100% disponível para ele.

Crescidos que somos, entendemos que isso acontece porque ela tem outras diversas preocupações para dar conta, mas para aquele pequeno ser em desenvolvimento, tudo o que existe é falta e dúvida sobre quando mamãe irá voltar.

Se a criança se vê sozinha diante de uma necessidade e não sabe como supri-la, ela chora ou busca ir ao encontro da mãe. Quando a mamãe retorna, além do alívio imediato por não se sentir mais só, o bebê experimenta uma série de emoções e sentimentos positivos que garantem a ele que a espera foi recompensada por uma presença de qualidade. Assim, sua mãe se torna confiável.
 
 
O bebê confia em sua mãe quando sabe que o afastamento dela é temporário e seu retorno é garantido. “Suporto a falta dela porque sei que ela irá voltar.” A atenção e o afeto que já recebeu antes de sua mãe o acalma e então ele se torna capaz de esperar um pouco mais.

Este processo será repetido pela criança na relação com seu pai, irmãos, parentes próximos, vizinhos, a primeira professora, os colegas de escola… enfim, com as demais relações interpessoais que viver da juventude até a velhice.


Quando um paciente experimenta pela primeira vez uma sessão de terapia comigo, independente de sua idade ou gênero, costumo dizer a ele que não irei pedir que confie em mim porque creio que, com o caminhar das sessões, um irá conhecer o outro melhor e então "naturalmente" a confiança irá surgir.
 
Não é possível pedir confiança da mesma forma em que não é possível garantir que palavras sejam cumpridas. Porém, além das palavras, existem as atitudes e o afeto. O que sustenta uma relação de confiança não são apenas palavras, mas as emoções e os sentimentos que ambos compartilham quando estão próximos e também quando estão distantes um do outro.
 
Por isso, ter fé em alguém e considerá-lo "ponta firme" leva tempo.

E leva tempo porque os sentimentos precisam se tornar sólidos o suficiente para que sintamos que eles são permanentes, que vão, mas voltam, assim como um bebê espera pelo retorno de sua mãe.


É por esta razão que a frase “confie em mim” pode soar tão estranha para você. No fundo, não é simplesmente uma questão de escolha. Quem te pede confiança precisa sobreviver ao teste do tempo para que você experimente emoções e sentimentos em relação a ela. Será que o outro está disposto? Ou insiste em apressar este processo que é tão importante para que se construa com solidez um laço afetivo entre vocês?

Desenvolvendo a capacidade de se observar, poderá compreender melhor quais sentimentos esta pessoa desperta em você e o que de fato espera dela. Você confia nela ou está apenas com medo de se ver sozinho(a)? Costuma se esforçar demais para ser capaz de confiar ou se sente sempre desconfiado de tudo e todos?

Estas e outras questões podem surgir e respondê-las será de grande importância para entrar em contato consigo mesmo(a).

Vamos pensar sobre isso?


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